O Hubble devia fotografar meu quintal.
O Hubble está bem longe.
Voando para fotografar outros quintais.
Aqueles mais distantes.
Terras de perder de vista.
Grandeza que não consigo entender.
Mas devia fotografar meu quintal.
O que mais me chateia.
Onde estou agora.
O quintal de perto.
O que vejo além da janela.
Espaçozinho que faz os olhos encher-se de lágrimas.
Faz doer a cabeça.
Quintal que exige dinheiro no bolso.
Tudo tem que ter dinheiro.
Quando não tenho, não sou nada.
Este quintal é bem difícil de entender.
Se a missão do Hubble parece difícil,
A minha só tem aparência de fácil.
Ora as pessoas estão alegres,
Outras vezes estão tristes e violentas.
Transparece alegria em tempos de paz.
Outras vezes querem destruir este templo,
Que é o vilarejo onde moro.
Quintal compartilhado que me dar tremenda dor de cabeça.
Penso às vezes em fugir para além das montanhas.
Mas será que o quintal de lá é mais tranquilo do que onde eu estou?
Talvez seja melhor ficar no meu próprio quintal.
Assim terei que suportar a cidade inteira,
Para viver bem.
A começar por minha família,
Meus amigos, trabalho, faculdade, meu País.
Todos com mandamentos de encher livros e livros.
Tomara que as fotografias do Hubble desvendem as origens do universo.
Quem sabe possam servir para desvendar as tantas cercas,
Infinitas e complexas cercas,
Dentro do meu próprio quintal.
Brasília, 10 de fevereiro de 2019.
O Hubble devia fotografar meu quintal. Poema de Bomani Flávio.
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