A piscina gelada de Alepo.
Alepo, quão bem eu te quero.
Como a guerra aparentemente acabou,
Sobraram os escombros.
Onde há escombros do terror,
Não tem como esquecer a dor.
E para evitar o vício de nova dor,
Que deixa as mães aflitas,
Os filhos estraçalhados,
Eu construiria uma piscina.
A piscina gelada de Alepo,
Para amenizar algo tão devastador.
Reservatório do tamanho do céu,
Do magnífico céu das arábias,
Que a protegeria do ruim de lábia.
Piscina na forma de um círculo,
Com águas extremamente geladas,
Do tamanho da província,
Para evitar nova intolerância.
Quando se protege a cidade,
O futuro vai se abrindo com qualidade,
De forma a diminuir a maldade.
Todas as cidades precisam de proteção
Contra severos meteoros,
Que os homens enviam de cima, dos lados e debaixo.
De todo o modo,
Era para ter havido uma piscina,
Do tamanho da província de Alepo.
Mas o que restaram foram os escombros,
Que os agressores agora dão de ombro.
Então chorei.
Berrei feito uma cabra,
Sozinha, no vale da dor.
Ninguém, pois, merece estar em um vale,
Rodeado de escombros que não fez.
Talvez fosse melhor levar todo o escombro,
No endereçamento certo, com todo o escaibro.
Material devolvido com juros e correção monetária.
Talvez assim o passado não vire um livro lendário.
Brasília, DF, em 10 de maio de 2019.
A piscina gelada de Alepo. Poema de Bomani Flávio.