Arquivo para categoria: poemas sobre o ser e os seus medos.

depressão

Na depressão, cuidado com Corine.

Sempre reagir contra a depressão.

Reação com cuidado,

Por causa de Corine,

Pássaro da opressão!

 

Não tem rosto de homem,

Nem de mulher.

Cuidado com Corine,

Para que você não desanime.

 

Ave que aparece do nada,

Porque é uma desgraçada.

Entra incrivelmente no pensamento,

Onde mora o discernimento.

Ele quer mudar o conhecimento,

Por causa do abalroamento.

 

Que estranha moradia,

Desse ser sombrio!

Aloja-se no pensamento,

Para mudar o entendimento.

 

Pânico, ansiedade extrema.

Baixa autoestima.

Impaciência exacerbada.

Medo sem cor.

Tudo alimenta Corine,

Que é mais forte do que Wolverine.

 

Quase ninguém, pois, escapa de Corine,

Se ceder por completo a depressão.

Se estiver com um pé nessa submissão,

Fuja de Corine, a opressão.

 

Se passar por depressão,

Cuidado com Corine,

Ser invisível da opressão,

Que anula a reação.

Como saber se será Corine?

Nunca queira saber,

A não ser que queira, infelizmente, ceder.

 

Brasília, 24 de julho de 2019.

Na depressão, cuidado com Corine. Poema de Bomani Flávio.

vida de casal

Há uma chama na vida do casal.

Há uma chama à disposição do casal.

Escudo criado nos tempos de bonança.

Tem uma chama na vida do casal,

Para ser usada também nos tempos de mudança.

 

Intensa labareda,

De cor vermelha ou amarelada,

Às vezes a mistura dos dois,

Para iluminar, como o sol, a vida do casal.

 

Chama que não nasce de manhã,

Nem se põe nos fins de tarde,

Para imperar a noite no seu lugar.

 

Se o casal não preservar esta chama,

Tão invisível quanto o rosto de quem ama,

Com certeza este sol desaparecerá,

Nos terríveis tempos de trama.

 

De forma que tudo pode virar trama,

Que talvez mine a confiança,

Se antes não abater as finanças.

 

Há uma chama na vida do casal.

Durante o dia, na forma de uma nuvem.

Mas, durante a noite, em uma coluna de fogo.

Energia limpa para aquecer e iluminar a vida do casal.

 

Chama que, misteriosamente, impede um terrível som.

Tenebroso som,

Com cheiro de fedor,

Na forma de puta, vadia,

Cafajeste,

Além de outros nomes como peste.

 

Há uma chama na vida do casal.

Mas, se desaparecer,

Ele ou ela,

Receberá todo tipo de energia suja,

Na forma de puta, vadia,

Cafajeste,

Além de outros nomes como peste.

 

Há um chama na vida do casal.

Antídoto contra tempo sazonal.

Arma tão preciosa que pode,

Infelizmente, virar gelo,

Que, se consolidar,

Destruirá, de forma precoce, a vida do casal.

 

Brasília, DF, em 17 de julho de 2019 às 00:20.

Há uma chama na vida do casal. Poema de Bomani Flávio.

onça

Uma onça tatuou minha pele.

Uma onça tatuou minha pele.

Quando eu esbanjava saúde,

Regada a alimentação fitness,

Academia e cooper,

Uma estranha onça, invejosa, tatuou minha pele.

 

Tatuou inexplicavelmente minha pele.

O animal rapidamente mudou a minha pele.

De segundos para outro,

Mudou a minha pele,

Que me deixou mal.

 

Deixou toda minha pele com manchas.

Salpicada de manchas.

De quê?

De manchas vermelhas.

 

Tatuou todo o meu corpo,

Para estarrecer e estremecer o meu eu.

O animal, infelizmente, se escondeu.

Para o médico se escondeu.

De tanto se esconder, reapareceu,

Para estarrecer e estremecer o meu eu.

 

Mas que onça pintada era aquela,

Que do nada surgiu?

Que agora eu vejo,

Do outro lado da janela,

Zombando do meu eu?

 

É a onça do cataclismo.

Vem do nada.

Aproveita o outono,

Talvez outra estação,

Para estarrecer e estremecer

A qualquer eu.

 

Todo o meu corpo salpicado de manchas.

De que manchas?

De manchas vermelhas,

Para estarrecer e estremecer o meu eu.

 

De onde vieram severas coceiras,

De fazer as mãos se contorcerem

Até provocar canseira,

Onde não havia canseira.

 

Como essa onça surgiu?

Veio do passado?

Do futuro?

Do nada surgiu.

 

Veio pelo ar.

Talvez por um creme corporal vencido.

Pode ter vindo por virose,

Mas nunca por neurose.

 

Onça maldita!

Veio do nada,

Para estarrecer e estremecer o meu eu,

Sob a reação do corticorten,

Com a ajuda do allegra.

 

Mas Elohim surpreendentemente agiu,

Para afastar esse maligno coliseu.

Não fosse assim,

O bicho teria se transformado na morte,

Para estarrecer e estremecer o meu eu.

Os piores bichos não estão na mata.

Podem estar dentro de qualquer eu.

 

 

Brasília, DF, em 27 de junho de 2019.

Uma onça tatuou minha pele. Poema de Bomani Flávio.

Estou surtando para dentro de um quadro.

Ao invés de surfar na alegria,

Estou surtando.

Corpo suando.

Coração desandando.

 

Mas sexta-feira não é dia para surtar.

Dia de ir para a zoeira.

Estou surtando rapidamente.

 

Estou sendo, na verdade, sugado severamente,

Para dentro de um quadro.

Bicho funesto e inodoro.

Então não posso dizer que estou bem, obrigado.

 

Estou surtando.

O corpo tremendo,

Coração palpitando,

Discernimento reduzido a zero.

Acho que estou sendo tragado para dentro de um quadro,

Que não está no museu.

 

Muito castigo alguém virar um quadro.

Talvez Van Gogh tenha virado quadro e ninguém saiba.

Não quero ser um quadro,

Que não sai, não come.

Pode valer milhões,

Mas não come e não peida.

Não quero ficar exposto na parede,

Se o castigo é ir para debaixo do chão.

 

Brasília, 10 de maio de 2019.

Estou surtando para dentro de um quadro. Poema de Bomani Flávio.

Raízes

A crise existencial veio do chão do meu coração.

Do chão do meu coração.

A crise existencial veio do chão,

De onde se alimenta o meu coração.

Essa crise não veio da sombra,

Que agora me assombra.

 

A crise veio do chão,

De onde procede a matéria-prima,

Que contaminou meu coração.

 

E como o coração está contaminado!

Medroso como uma presa abatida.

O mal corrompeu o chão,

De onde brotou meu coração.

 

Por isso eu tremi.

Eu corri feito louco nas ruas.

Senti sufocamento por causa do ar que desapareceu.

Sentia, pois, a morte chegando,

De sorte que me sentia desaparecendo.

 

Do chão do meu coração.

Podia ter vindo da boca,

Dos braços ou das pernas.

Mas veio do chão,

Lugar de onde vem a emoção.

 

Portanto, eu não soube guardar o chão do meu coração.

Primeira crise e desse jeito.

Antes que seja tarde,

Preciso levantar-me do chão,

Para recuperar o chão do meu coração.

 

Pois nesta vida tem muito chão.

Muito chão para andar.

O chão onde está o coração.

O chão aonde eu ando.

 

Em todo o canto em que eu for,

Preciso ardorosamente proteger o chão.

Sem sombra de dúvida,

Falo do chão do meu coração.

 

Caso eu não consiga proteger este chão,

Melhor eu voltar para o berço.

Talvez assim eu consiga reaprender a andar,

Para me proteger dos muitos chãos.

Se a crise existencial pode levar a perder a vida,

O chão aonde se pisa pode tragar qualquer chão

De onde, inclusive, vem a vida.

 

Brasília, 03 de maio de 2019.

A crise existencial veio do chão do meu coração. Poema de Bomani Flávio.

camisa

A camisa polo verde está me sufocando.

A camisa polo verde está me sufocando,

Mas eu não estou morrendo.

A páscoa, no horizonte, está chegando.

A camisa polo verde está me sufocando,

De forma que a respiração está baixando.

A camisa polo verde está me pressionando,

Tirando a paz que está acabando,

Mas eu não estou morrendo.

 

Parece que tudo está acabando,

Porque uma terrível enchente está chegando.

As árvores, as ruas, as casas.

Tudo está submergindo,

Dentro da água que a tudo está tomando.

 

Agora me vejo nadando.

Luto contra as águas,

Que estão me desafiando.

Elas estão me puxando,

Para um lugar medonho.

Mas estou resistindo.

Igual a um touro correndo.

 

Continuo nadando,

Pois estou sobrevivendo.

Porém preciso de um kit de mergulho,

Porque estou vencendo.

 

Com a camisa cinza me ajudando,

Estou vencendo a camisa verde,

Que está derretendo.

 

O caos, o pânico, o sufocamento

Tudo está derretendo, mas eu não estou morrendo.

A camisa verde está derretendo.

A camisa polo cinza está virando tudo.

Talvez o pesadelo tivesse evitado,

Se a camisa polo cinza eu estivesse vestindo,

Na manhã de uma quinta-feira que está chovendo.

 

Brasília, DF, em 19 de abril de 2019.

A camisa polo verde está me sufocando. Poema de Bomani Flávio.

pânico

O pânico quer interferir no meu modo de ser.

Notícias de guerra me descontrolam.

Síria,

Iraque,

Afeganistão,

Sudão.

A violência no meu bairro.

 

Notícias de guerra me abalam.

Mas nada se compara ao que estou sentindo.

Algo agora está me descontrolando,

De uma forma abstrata e loucamente.

 

Pode ser o pânico,

Que está me controlando.

Meu modo de ser sereno,

Agora me deixando antagônico.

O modo de ser é patrimônio.

 

Se não trazer bem-estar,

Vira um redemoinho.

Estranho redemoinho,

Que vai girar assustadoramente,

Para negativamente recriar o ser.

 

Eu sinto então meu ser controlado sumindo.

Como sendo sugado em um tornado escuro,

Onde tudo gira,

De um sombrio nada maduro.

 

Que tornado será esse?

Será chuva de estresse?

Tornado extremamente escuro,

De um pânico cada vez obscuro.

 

Pior animal que existe.

Pânico invisível,

De impacto imprevisível.

 

Vive das lascívias,

Quando deixa o ser sem rumo,

Das enganações,

Dos excessos das vontades,

Das tantas manipulações.

Tudo alimenta o pânico,

Monstro tirânico.

 

O pânico caça de noite.

Também caça de dia.

Não importa a chuva.

Não importa o dia.

 

Dessa forma, vence o pânico quem seja forte.

Meu ser ainda parece forte.

Forjado com a veste do lobisomem,

Dos tempos do cataclismo.

Mas os espectros me descontrolam.

Luta, pois, de todos os dias.

Luta das misturas.

Das guerras de lá,

E das guerras de cá.

 

Porém, no meio de tudo isso,

As sensações.

Tenho que aprender a controlar as sensações,

Para discernir as emoções.

Talvez assim supere a caça implacável do pânico.

Quanto mais crédito às sensações,

Mais descrédito às ponderações.

O ser, por si mesmo, pode ser enganado,

Se estiver extremamente confuso e atribulado.

 

 

Brasília, DF, em 03 de abril de 2019.

O pânico que interferir no meu modo de ser. Poema de Bomani Flávio.

Auschwitz

Auschwitz da energia cinza – Campos de concentração.

Auschwitz da neve branca.

Auschwitz da energia cinza.

Que chaminés são aquelas,

Que soltam estranha fumaça?

 

São a intensa energia cinza,

Que vem das concentrações.

Dos tristes campos de Auschwitz.

 

Será que os espaços estão diminuindo,

Para haver tanta cinza fumaça?

Muita concorrência,

Para pouca riqueza?

 

Anda ônibus, anda rápido.

Estou vendo muita fumaça.

Muitas ameaças podem ocorrer.

Como aquelas de Auschwitz.

 

Os empregos minguando.

A superpopulação assombrando.

Vacinas com cara de ovelha.

 

Espectros para eliminar os pobres,

Os doentes e os feios?

Tudo assombra para uma única direção:

O passado sombrio assusta,

Por causa da contaminação.

 

Muito mais nefasto podem ser os algoritmos,

Que descobrem buracos negros.

Os códigos podem matar,

Sob as mãos não forem boas.

 

Os tempos poderão ser, pois, extremamente difíceis.

Os arames farpados, pois, ficariam para trás.

 

Sangrentos utensílios de cozinha,

De um mundo exigente,

Que odeia divisão,

Mesmo havendo muitos espaços.

 

Anda ônibus, anda rápido.

Estou lutando por espaços.

Luta que começa no ônibus cheio,

E termina em vaga já ocupada.

 

Talvez surja a seguinte esperança:

Chaminés no passado,

Porém muitos espaços no presente.

Que as chaminés sejam para churrasco.

Não para resolver problemas de espaços.

 

Então desço do ônibus,

Para buscar pedacinho de espaço.

Não para ser vítima dos espaços.

 

Auschwitz da neve branca.

Auschwitz da energia cinza.

O mundo gira em torno dos espaços.

Ouro que demasiadamente assombra.

Aliás, tudo assombra o ser de dentro,

Assombra também o ser de fora,

Na busca constante por espaços.

 

Auschwitz da energia cinza.

Energia que foi embora.

Esfarelou o ser de fora.

Acabou levando também o ser de dentro.

 

Energia cinza que felizmente foi embora.

Substância, porém, que pode voltar

Por causa dos muros,

Que existem para machucar.

Mesmo com novas cores.

 

Brasília, DF, em 24 de março de 2019.

Auschwitz da energia cinza. Poema de Flavio Fiorentina.