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Socorro, meus amigos sumiram!

Socorro, meus amigos sumiram!

O que está acontecendo?

Meus amigos sumiram.

Agora não sei o que fazer,

Nem como devo proceder.

 

Quando os amigos desaparecem,

O quintal fica triste.

O sorriso fica nas lembranças,

E todos correndo nas fotografias.

 

Socorro, meus amigos sumiram!

Nas fotos todos estão presentes.

Mas no dia a dia a solidão sempre a abater.

 

Por que foram embora?

Isso não sei responder.

Eles foram embora.

Não deixaram recado.

Agora não sei o que fazer.

 

Amigo é patrimônio da vida.

Bem que não se deprecia.

Se for pedra bem lapidada,

A amizade, no fogo, sempre será testada.

 

Socorro, meus amigos sumiram!

Reclamação ouço de toda parte.

Minha esposa indaga onde estão meus amigos.

Ela diz que tem várias amigas.

Sou homem e não recebo visita.

Será que sou um homem parasita?

 

Socorro, meus amigos sumiram!

Agora não sei o que fazer.

Passei a vida toda tendo amigos.

Hoje resta saldo zero como nenhum.

 

Sábias, pois, são as perguntas da vida.

Contraditórias são as respostas.

Se há amigos fora do universo,

Por que também não estão dentro do universo?

 

Socorro, meus amigos sumiram!

Agora não sei o que fazer.

Busco amigo que seja da lua ou do sol,

Que esteja nas estações do querer.

 

Brasília, DF, Brasil, em 28 de agosto de 2018.

Socorro, meus amigos sumiram! Poema de Bomani Flávio.

bar

No bar.

No bar, quanto cheiro de cuspe!

Fruído que vejo no chão.

Secreção na parede, no teto.

Cuspe misturado com cheiro de cigarro.

Cuspe claro com outro mais escuro.

Babel de cheiros e cores que atraem meu ser!

 

Porém meu outro ser ficou zangado.

Ciúmes à flor da pele.

Detesta cheiro de cuspe.

Critica o cigarro e a fumaça.

Reprova o bar,

Lugar aonde nunca foi.

 

Disparidade que tem gerado briga.

Confronto entre dois rivais,

Com sobrenome diferente,

Dentro do meu próprio ser.

Seria rival A contra B?

 

Meu ser me obedece.

Meu ser me desafia.

Rezei.

Orei.

Frequentei as novidades da meditação.

Andei nas campinas do cerrado.

Ao boteco, porém, não voltei.

Antidepressivo para um ajaulado.

 

Enfrentar-se é guerra árdua,

Pois não tem como se repartir.

Mas o cheiro de cuspe no botequim,

Secreção na parede, no teto,

Tudo saiu da boca de alguém.

De muita gente, mais com mais.

Cada secreção uma estória,

De muitos minutos,

Talvez horas,

De muita conversa.

E eu aqui, na minha controversa,

Na casa limpa e organizada,

Sem ninguém ao menos para uma conversa.

Brasília, DF, Brasil, em 24 de abril de 2018.

No bar. Poema de ‎Bomani Flávio.

São Paulo

São Paulo: liberdade ou amizade improvável?

Sequer liberdade tenho nesta enorme e pujante cidade,

Com densas casas verticais,

Que se multiplicam rapidamente na extensa paisagem.

Às vezes meus olhos cansados só percebem a mudança,

Nesta São Paulo que amo,

Quando estou em um mirante de tremer as pernas.

 

Exuberante savana.

Isso que é.

Cheia de animais.

 

Bichos, porém, com aparência de ovelha,

Em pele com chapa de aço.

Três, quatro e tantos cilindros.

Há pouco precisava-se apenas de dois.

Haja barulho contra os sensíveis tímpanos,

Feitos de carne!

 

Baita cidade-planeta!

Gente conectada ao celular.

Ouvidos quase sempre ocupados.

Sabe-se lá com o quê!

 

Paredes invisíveis,

Porém possíveis de se ver,

Em abrir e fechar de olhos.

Basta olhar em cada esquina,

Em cada rosto que não se ver.

 

Alfa, gama ou beta.

Não importa como classificam esta superestrutura,

Mas foi a vila que escolhi para morar.

 

Até que tento sair à rua,

Uma, duas, três.

Quantas vezes for possível,

Após mais um dia de trabalho ao lar voltar.

 

Mesmo assim, ponho o pé várias vezes na rua,

Mas vejo onças e leões,

Em cada rosto e

Em cada olhar.

 

Zoológico invisível diante de meus olhos,

Com sutil toque que me faz retrair.

A estranha vizinhança impõe restrição,

Que nenhum animal de estimação se ponha a cuidar.

Meu Deus! Estou perdido nesta enorme gaiola!

Cheia de carros, barulho e gente apressada!

Mas foi a vila que escolhi para morar.

Se é para levantar e andar,

Vejo a bicicleta quebrada,

Que não sei consertar

E muito menos pedalar.

Só pode ser amizade improvável,

De uma liberdade a desafiar.

Apenas tenho que recomeçar.

 

Nem sei consertar bicicleta,

Muito menos carro tenho para levá-la,

Nesta mesma cidade-planeta,

Que GPS precisa para andar.

Mas está aí a superação,

De um novo reinício a superar.

 

Vai rapaz, que sou eu,

Arrume você mesmo.

Ajuda do Google você tem,

Para bicicleta consertar.

Se não souber, aprenda.

Amizade improvável também é da vida.

 

Com o vento na cara,

Finalmente vou me soltar.

Vencerei onças e leões,

Talvez anacondas,

Que ao zoológico vão retornar.

Bem certo é que não vou deixar os animais me assustarem,

Se sou um animal que também pode amedrontar.

Não se pode abandonar cidades-planetas.

São Paulo foi a vila que escolhi para morar.

 

 

Brasília, 27 de novembro de 2017 às 06:14
São Paulo: liberdade ou amizade improvável. Poema de Bomani Flávio.