Arquivo para categoria: Poemas sobre o ser e a convivência com os lugares.

barco

Flutua barco sobre o denso mar.

Flutua barco sobre o denso mar.

Em época da lágrima que não chora,

O que se pode desejar?

Para entreter a mente,

A receita pode ser o mar.

Mesmo naquele na minúscula bacia

Como se fosse brincar.

 

Flutua barco sobre o denso mar.

O que um homem pode desejar,

Além do mar?

Tantas coisas podem desejar,

Se for para desvendar

O que existe acima do mar.

 

Se as águas do mar encantam de amedrontar,

O azul do céu é maior do que o do mar.

O céu azul encobre o que o homem não vê,

Se também não esconder as do mar.

 

Flutua barco sobre o denso mar.

Preciso enxergar além do céu azul.

O azul acentua minha miopia,

Mas o que eu quero estar bem além do azul.

 

Galileu Galilei enxergou além do céu azul.

Viu que a Terra gira,

No espaço que não é azul.

 

Os navegadores venceram o azul do mar.

A recompensa veio com novas terras,

Que existiam do outro lado do mar.

 

Flutua barco sobre o denso mar.

Tem muita coisa além do céu azul.

Tem as estrelas, a lua, o universo.

 

Mas também pode ter muitas lágrimas,

Das tristezas sem fim.

A vida termina com lágrima,

Mas o início parece de extrema alegria.

 

Flutua barco sobre o denso mar,

Mesmo que dentro desta bacia.

Bom seria que o que estarrece

Pudesse ser colocado dentro de uma bacia.

 

Mas se não ficasse dentro de uma bacia,

Pudesse ficar exposto sobre uma mesa.

Como meu coração, por exemplo

Provavelmente eu não estaria ali,

Já que o material conteria ossos,

Tecidos, pele e sangue.

Onde estaria, pois, o meu verdadeiro ser?

 

 

Brasília, DF, em 10 de junho de 2019.

Flutua barco sobre o denso mar. Poema de Bomani Flávio.

A piscina gelada de Alepo.

Alepo, quão bem eu te quero.

Como a guerra aparentemente acabou,

Sobraram os escombros.

Onde há escombros do terror,

Não tem como esquecer a dor.

 

E para evitar o vício de nova dor,

Que deixa as mães aflitas,

Os filhos estraçalhados,

Eu construiria uma piscina.

A piscina gelada de Alepo,

Para amenizar algo tão devastador.

 

Reservatório do tamanho do céu,

Do magnífico céu das arábias,

Que a protegeria do ruim de lábia.

 

Piscina na forma de um círculo,

Com águas extremamente geladas,

Do tamanho da província,

Para evitar nova intolerância.

 

Quando se protege a cidade,

O futuro vai se abrindo com qualidade,

De forma a diminuir a maldade.

 

Todas as cidades precisam de proteção

Contra severos meteoros,

Que os homens enviam de cima, dos lados e debaixo.

 

De todo o modo,

Era para ter havido uma piscina,

Do tamanho da província de Alepo.

Mas o que restaram foram os escombros,

Que os agressores agora dão de ombro.

 

Então chorei.

Berrei feito uma cabra,

Sozinha, no vale da dor.

 

Ninguém, pois, merece estar em um vale,

Rodeado de escombros que não fez.

Talvez fosse melhor levar todo o escombro,

No endereçamento certo, com todo o escaibro.

Material devolvido com juros e correção monetária.

Talvez assim o passado não vire um livro lendário.

 

Brasília, DF, em 10 de maio de 2019.

A piscina gelada de Alepo. Poema de Bomani Flávio.