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O câncer é um ser vivo.

O câncer é um ser vivo,
Pequenino,
Ora grande,
Que pode estar doidamente dentro de você.

 

Porém não tenha medo do hospedeiro,
Se o invasor ameaçar os órgãos e tecidos
De seu precioso ser.

 

Ameaça não haveria,
Se o tumor estivesse enjaulado no zoológico,
Como bicho em extinção,
E não como estranho monstro,
Que ninguém vê.

 

O carocinho é um ser vivo,
Que cresce nos dias lindos de sol,
Chuva ou inverno.
Reproduz-se como lavoura,
Infelizmente bem dentro de você.

 

Não tenha medo do bichinho,
Se a esperança não for pequena.
Caso não seja grande,
Esquente-se sob a intensa luz do sol,
Até um dia a estrela se tornar uma bola de gelo.

 

O nódulo é um ser vivo,
De cérebro psicopata,
Pois interage com seu corpo,
Savana preferida,
Onde reina como um animal.
Somente para destruir você.

 

O bichinho é um ser vivo,
Que não tem critério de beleza.
Olhos pretos, azuis, verdes.
Pele clara ou morena.
Não é preconceituoso como você.
Quer devorar todas as vísceras,
Peles e tudo o que for parte de você.

O bicho é realmente cruel.
Parece arma,
Que está em todo o lugar.
É maior do que qualquer leão.
Devora mais do que a anaconda ou tubarão branco.
Tudo para destruir você.

 

O câncer é o animal mais terrível da face da Terra,
Porque prefere os labirintos,
Que você talvez conheça,
Lá do fundo do seu ser.

 

O câncer só quer crescer, crescer.
Crescer é o seu norte.
Ambição que começa bem pequena.
Depois prolifera,
Sem ninguém perceber.

 

Não tenha medo do câncer,
Que te ver como uma savana.
Ele não escolhe olhos lindos,
Lábios enfeitados pelo batom.
Nem quem tem dinheiro ou cabelos sedosos.
O câncer é um mistério que olho nu não vê.

 

O câncer é um ser vivo,
Que impõe medo de morrer.
De mãos dadas, porém, resta a esperança,
De prendê-lo no zoológico,
Como animal em extinção,
Para nunca mais dali possa fugir.

 

O câncer poderia morar apenas no horrível pesadelo,
Se os olhos não cobiçassem o diamante dos olhos,
Que é a felicidade.
O câncer é a própria infelicidade,
Para impedir uma existência breve,
Que já é tão breve.

 

“Bastidores do poema: Visitava minha cidade natal,
Barreiras, no oeste baiano, nordeste do Brasil, em meados de janeiro de 2018,
quando tomei ciência de mortes recentes de mulheres,
vítimas do câncer.”

 

‎Brasília, DF, em 18 de janeiro de 2018.

O câncer é um ser vivo. Poema de Bomani Flávio.

Caroço

O caroço que dói nas mulheres.

Outubro Rosa é uma data.

Mas o que enlouquece é o caroço,

Que dói nas mulheres.

Câncer que enlouquece a ciência,

Que se encanta com o terror.

 

Porém é preciso ficar atento,

Porque chega de mansinho,

Não bate a porta

E toca bem mais que o pavor.

 

O grânulo, que dói nas mulheres,

Intimida a vítima,

Que sofre, em sofrível baixa autoestima.

 

A íngua é míssil,

Enviado pelo Tudo,

Para levar angústia,

Mesmo em quem não seja peitudo.

 

O incômodo é uma bomba que não passa por check-in.

No checkout, brinca com a vida,

Pois sua missão é a própria dor,

Que pode levar ao fim.

 

O grumo, que amedronta as mulheres,

endoidece a ciência,

Que se atrai pelo terror.

 

Mas uma coisa a mulher deve fazer:

É encarar o próprio terror,

Com delicadeza e furor.

 

O grânulo, que amedronta as mulheres,

Desafia a ciência,

Que, para reparar injustiça,

Em diligência, sempre deve estar.

 

A ciência precisa furar o caroço,

Para extirpar outros grânulos.

Que murcharão em destroço.

 

Dessa forma, a ciência enlouquecerá o nódulo,

Que fugirá para sempre,

Por causa do terror.

 

(*)Imagem disponível em: https://www.saudedica.com.br/os-14-beneficios-do-caroco-do-abacate-para-saude/

O caroço que dói nas mulheres.‎ Bomani Flávio.

Que voce possa ser feliz

Que você possa ser feliz.

“O poema foi escrito entre zero até às 2 horas da manhã do dia 4 de janeiro de 2017
na térmica cidade de Caldas Novas, Estado de Goiás, Brasil.”

 

Se felicidade é ser feliz,

Que você possa ser feliz quando completar mais um ano de idade,

Porque a Terra terá completado mais um movimento de translação ao redor do sol.

O cosmo estará dizendo que nem ele é livre, porém tudo realizado com extrema arbitrariedade,

Baseado em regra mais rígida do que a sangrenta norma do império mongol.

 

Não fique chorando pela liberdade perdida.

Não esqueça que o planeta Terra realiza a translação de forma sempre elíptica,

Movimento em que a trajetória nunca será presumida.

Pensar diferente é achar que tudo seja uma inverdade.

 

Que você seja bem feliz porque o universo estará em constante velocidade.

A única corrida que você tem que fazer é não correr com ansiedade.

O movimento que o planeta faz tem sempre extraordinária assiduidade.

 

Tamanha assiduidade terá repercussão na sucessão de anos,

Que influenciará extraordinariamente no seu aniversário.

Pensar diferente é achar que tudo seja uma inverdade.

 

Que você seja bem feliz porque fará parte mais uma vez de um calendário.

Caso contrário seria riscado e não faria mais parte da corrida do anuário.

Situação que você não vai gostar porque a interrupção do movimento gera a morte.

 

É melhor ter sorte nas rígidas regras da natureza do que sofrer um fatal corte.

Que você seja bem feliz, em todo instante, porque estará alinhado com o universo.

Enquanto o universo estiver correndo a mais de cento e oito mil quilômetros por hora,

Estará participando da ditadura de um movimento universal que é incontroverso.

 

No universo tudo parece programado, pois nada é deixado para última hora.

Se o movimento de translação segue regra bem rígida para, de alguma forma, te fazer feliz,

A dor, a tristeza ou a depressão é um outro movimento para te fazer infeliz.

Ambos os movimentos ninguém percebe, mas sente que nem uma atriz.

 

Brasília, DF, em 4 de janeiro de 2017.

Que você possa ser feliz. Poema de Bomani Flávio.

Como será o ano novo que se aproxima?‎

Como será o ano novo que se aproxima se o velho não é só um conceito?
A dúvida chegou tão de mansinho em que eu estou nesta bicicleta,
Pedalando para sentir o tempo que para mim não parece perfeito.

Sim, o tempo me parece tão imperfeito quanto eu.
Ruguinhas, problemas ali em meu corpo, que vai perdendo o apogeu.
Tudo isso o tempo vai aplicando quase me deixando no breu.

Difícil de acreditar sobre como será o ano novo que se aproxima,
Se eu não fizer uma média e dividir pelo que vi no ano velho.
Espero que o resultado não seja, para ouvir ou ver no jornal, uma bombinha de Hiroshima.
Qualquer artefato, aliás, pode trazer muita coisa de vermelho.

Como será o ano novo que se aproxima com minhas metas,
Se as anteriores, entre dez, mais de sete não se cumpriram?
Sou daqueles que trabalha calado, sem tocar trombetas.
Assim, algumas coisas fluíram, outras não convergiram.

Ano velho ficando para trás porque o novo se aproxima.
Parece que tudo tenha sido feito para ter um clima.
O tempo, por si só, parece um clima que contém toda a matéria-prima,
Para um bruxo ou feiticeira que trabalha para fazer algo com sua vítima.

Eu sou uma dessas vítimas que nada pode fazer.
Ano novo ou ano velho, apenas é nomenclatura,
Para eu achar que consiga algo refazer.

Preciso pedalar, pedalar e pedalar.
Talvez pedalando eu consiga achar que tenha enganado o tempo,
Porque estarei usando sua linguagem,
Que é a do movimento com algum tipo de passatempo.
Pensando melhor, talvez tudo não passe de uma roupagem.

 

“O poema foi escrito entre às 10 horas da manhã e 12:37
sob muito sol e alguma expectativa de chuva na Capital Federal.

Brasília, DF, Brasil, 29 de dezembro de 2017.”

Como será o ano novo que se aproxima? ‎Bomani Flávio dos Santos Ferreira.

prestando atenção

Estou prestando atenção mais em mim.

Estou prestando atenção mais em mim.

Em cada coisa que faço, leio ou vejo.

Não apenas em que coisas que, por intuição, antevejo.

Como agora em que me maquio.

Ritual esquecido, porém recuperado,

Pela linda penteadeira que acabo de comprar.

 

Penteadeira com espelho oval e básica,

Para eu me cuidar.

Há que se ter um ponto de partida.

 

Quando alguém perguntar como conseguiu a mudança,

É porque agora estou prestando atenção mais em mim.

Mania ou medo, parasita silencioso,

Que deixei entrar em minha vida,

Está ficando para trás.

Lá no fim da rua que não existe.

 

Os cuidados maternos são modelos que, infelizmente, deixei não aflorar.

Lembro-me que qualquer ameaça como bebê ou criança era só chorar,

Que minha mãe vinha, às vezes tropeçando, me confortar.

Cuidar de si é também se gerenciar.

 

Se não eliminar incertezas,

Aparecerão diversos cuidadores invisíveis,

 

Como o clonozepam, as drogas e o alcoolismo.

Os dias atuais não ajudam para quem anda sempre em alta velocidade.

Se for isso mesmo, nada enxergarei com cumplicidade,

Exceto se não se importar com regra nenhuma para deixar com vulnerabilidade.

 

Estou prestando atenção mais em mim para remover rugas,

Que se impregnaram em baixa velocidade, sem pedir permissão.

O resultado já se conhece: o que me falta pode ser falta de coesão.

 

Mas a penteadeira é só um acessório.

Inclusive os novos sapatos,

As novas roupas, os perfumes.

 

Maquiando-me vou me conhecendo melhor.

Tempo gasto mais importante que o tempo perdido,

Sombra de terror que não volta mais.

 

Eu mesmo sou minha vida, meu gerente, minha própria sentinela.

Estou agora me conhecendo melhor.

No que eu gosto e no que me entristece.

Estou prestando mais atenção em mim.

 

Brasília, DF, Brasil, 19 de dezembro de 2017.

Prestando atenção. Poema de ‎Bomani Flávio.

atacama

Os desertos da Chama e do Atacama.

São os desertos da Chama e do Atacama,

Que aparecem às vezes de madrugada?

Se os sonhos têm acordado você de madrugada,

Preste então atenção,

Porque talvez não sejam ilusão.

 

O que não for ilusão para os olhos da carne,

Não o será para os olhos do coração.

Sonhos que vêm,

Sonhos que vão,

Não são simplesmente sonhos.

São ventos de mudança,

Ainda presos entre os olhos da carne e os olhos do coração.

 

E quando envolver deserto,

Mudanças importantes virão.

 

Quando isso acontecer,

Enfrentará o grande deserto da Chama.

Maior de todos os desertos dos céus e da terra.

Deserto que não é o do Atacama.

 

Mas precisa-se passar pelo árido e magistral Atacama,

Deserto mais alto do mundo,

Para chegar ao deserto da Chama.

O grande deserto dos sonhos,

Maior de todos os desertos dos céus e da terra,

Que faz surgir tudo de bom que há na vida.

Este é o deserto que todos temem.

 

O Atacama pode até tremer as pernas e os olhos.

Mas o grande deserto da Chama não tem começo.

Por não ter começo, também não tem fim.

Quem consegue a façanha, mestre dos homens se torna.

Mas para trilhar o grande deserto da Chama,

Comece pela parte mais baixa do Atacama.

Caso comece, termine na parte mais alta.

Não desvie nem para a esquerda,

Nem desvie para a direita.

Siga sempre em frente.

 

Somente realize a façanha se ouvir a voz,

Que é o ponto de partida para a Chama.

Não é a voz do medo, da esquizofrenia.

É a voz das mudanças,

Que querem existir.

 

Mudanças existem,

Apenas estão presas.

Liberte-as e será feliz.

 

Mas a voz da felicidade vem e vai.

Se tiver sonhos que vão e vêm,

Mas não sabe o significado,

Viaje para o deserto do Atacama.

Ponto de partida para outro deserto.

O grande deserto da Chama.

Maior de todos os desertos dos céus e da terra.

 

Andará sozinho,

Sob sol quente.

À noite, tempos frios.

Os dias chegarão,

Mas você avançará.

 

Mas, para não olhar para o norte ou para o sul,

Do deserto do Atacama,

Criou uma regra:

Nunca olhar para trás.

Por que você está aqui?

Quem trouxe você para cá?

O deserto do Atacama é muito grande.

 

Perguntas, muitas perguntas, são combustíveis,

Para obter respostas convincentes.

Quando estiver inquieto na vida,

Corra para o deserto do Atacama.

Ponto de partida para o grande deserto da Chama.

 

Isto ocorre por causa de Elohim,

O guerreiro do deserto da Chama.

De vez em quando Ele procura valentes,

Para o desafio da Chama,

Cujo ponto de partida é o deserto do Atacama.

 

Se Ele incutiu o sonho em você.

Tudo será seu,

Qualquer lugar será seu,

Inclusive o planeta Marte,

Desde que atravesse o deserto da Chama.

 

Deserto que Abraão, o pai de muitos povos, atravessou.

O homem saiu da parentela e da casa dos pais,

Para longa jornada,

A fim de herdar uma terra,

Pois sabia que seria sua e dos seus.

 

Abraão deixou um legado de oportunidade,

Para quem superar a própria vulnerabilidade.

Não tinha GPS, nem bússola.

Apenas um sonho de consumo.

Posteridade como as estrelas do céu,

Contato que andasse quase 2.000 km,

Sob muito sol de perder de vista.

 

Superou todos os obstáculos,

Para chegar ao deserto da Chama.

O grande deserto dos sonhos,

Que está dentro de você.

Mas também pode estar fora, se não acreditar.

 

Brasília, DF, Brasil, 17 de dezembro de 2017.

Os deserto da Chama e o do Atacama. Poema de Bomani Flávio.

síndrome do pânico

Síndrome do pânico.

Doutor, neste consultório de terapia, apenas me ouça.

Desintegrar-me é a sensação etérea que sinto,

No interior do meu ser.

Mas não consinto,

Por isso o descontentamento

Que chega para me abater.

 

Pois, como reagir?

Dizem que é a síndrome do pânico

– É isso mesmo? –

Que explodiu com larvas de todo tipo de terror dentro do meu ser.

 

Taquicardia, falta de ar ou alucinação.

Tudo tão vulcânico.

Sem medida alguma,

Para entender.

 

Luta desigual de todo o dia.

Semblante caído, que não é desídia,

Contra um ser invisível,

Poderoso como o pavor, nada plausível.

 

Estou cansado de tanto me assustar,

Por iminente cheiro de morte a açoitar-me.

Só não sei como, mas devo me afastar do perigo,

Do terror que me faz sentir tão sem abrigo.

Densa floresta em que estou sozinho comigo.

 

Disseram que preciso recuperar o equilíbrio emocional perdido,

Com o rivoltril, o clonazepam ou a paroxetina.

Novos amigos, para quem estar aturdido,

Entre equilíbrio e ambiguidade.

Viver eu quero, mas nada de ansiedade.

 

Do jeito que estou, a síndrome do pânico sempre vai me vencer,

Neste e no próximo amanhecer.

Antes que me sucumba,

Resta-me descobrir o monstro que construí,

Durante vivência em que anuí.

 

De todo o modo, o monstro se escondeu dentro do ser do meu ser,

Que eu, o próprio dono, achava que conhecia.

Alojou-se no cofre mais escondido do mundo,

Sem ao menos eu perceber.

 

Portanto, doutor, preciso desconstruir o monstro,

Não desintegrar-me.

O descontentamento é a esperança que resta,

Para sair desta densa floresta.

Terreno pantanoso,

Para um coração há muito imaginoso.

 

Mas preciso realmente saber quem é o bicho,

Que se impregnou, em meu assustado ser, como carrapicho.

 

Quanto mais aparecer o retrato falado,

Quanto mais eu jogá-lo para fora,

Creio que a ameaça irá embora.

 

O que mais quero, aliás, é vê-lo encurralado,

Para não me sentir,

Com tão pouca vida,

Tão amargurado.

 

No interior do meu ser,

Somente assim poderei ver antiga paisagem.

Como os raios de sol,

Que eu apreciava,

Bem cedinho, no amanhecer.

– Ou então no entardecer -,

De um dia qualquer.

 

Brasília, DF, Brasil, 10 de dezembro de 2017.

Síndrome do pânico. Poema de Flavio di Fiorentina.

portas abertas

Cidade com portas abertas. 

Sonhei esta manhã que todas as cidades do mundo,

De todos os continentes, credos e línguas,

Estavam com as portas abertas.

Ninguém nada entendia,

Porque não dava tempo por tamanha euforia.

 

Nada de alfândega

Para barrar negros, imigrantes latinos, gente mestiça.

Gente de outro planeta.

Gente vindo das cavernas desabitadas da lua.

Trânsito livre, pois, para todos os carros e pessoas.

Navios sem restrições.

 

Havia, enfim, celebração para comemorar o fim do passaporte.

Bem diferente do dia anterior

Em que eu dirigia em uma autoestrada,

Quando deparei-me com uma placa,

Furada ao meio por uma faca.

As setas invertidas me desorientavam.

Da esquerda direcionava para as portas brancas.

Da direita para portas pretas.

Lágrimas saíram de meus olhos.

 

Quantas classificações para processar!

Na estrada,

Seja aonde for,

As leis do trânsito não deveriam levar a lugares difíceis.

 

Acordei assustado.

Não devia haver cidade com portas brancas!

Também não devia haver cidade com portas pretas!

Bastava a denominação cidade com portas.

 

E se houvesse que qualificar as portas,

Que fosse a cidade com as portas abertas.

Cidade com portas receptivas faz bem a si mesma,

Pois a propriedade é uma fantasia de quem a criou.

Só se leva a propriedade quando se morre.

 

Brasília, 3 de dezembro de 2017 às 16:47

‎Cidade com portas abertas. Poema de Bomani Flávio.