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santuário

Um santuário dentro do meu eu.

Um santuário dentro do meu eu.

Eu não posso esquecer,

Mesmo na tristeza profunda,

Que tem um lugar,

Onde abriga o meu eu.

 

Se sou assim,

Talvez seja por causa do santuário,

Que envolve ou protege o meu eu.

 

Protege tanto que me faz feliz.

Brinca de feliz ou infeliz,

Por causa do meu eu.

 

Pois cada eu tem seu abrigo,

Que vira tremenda amigo.

Se estranhar, um feroz inimigo.

 

Quanto mais zelo,

Será, para os outros, um modelo.

Do contrário, para si ou para os outros, pesadelo.

 

Seja na expressão da alegria,

Seja na dor que sangria,

Esse templo influencia exageradamente o eu.

 

Mesmo quem tenha síndrome,

(burnout, pânico ou outro codinome),

Por favor, proteja o santuário.

 

Conquanto há um santuário,

Que abriga o eu.

Pequeno como o eu.

 

Mas se duvidar da existência desse templo,

Certamente alguém vai dizer que foram as más companhias.

Você se perdeu por causa das más companhias,

Por causa de uma vida sem guia.

 

Brasília, DF, em 14 de junho de 2020.

Um santuário dentro do meu eu. Poema de Flavio Florentina.

forjado

Forjado nos montes e nos vales.

E chegou o homem de Deus, e falou ao rei de Israel, e disse:
Assim diz o Senhor: Porquanto os sírios disseram:
O Senhor é Deus dos montes, e não Deus dos vales;
toda esta grande multidão entregarei nas tuas mãos;
para que saibas que eu sou o Senhor. 1 Reis 20:28

Forjado nos montes e nos vales,

Para suportar os terríveis trancos,

Que entristecem o coração,

Mas também confundem a emoção.

 

Antes que os montes e vales desapareçam,

Entenda isso, meu irmão.

Senão poderá estar no vale.

Infelizmente da depressão.

 

Entenda isso mesmo meu irmão.

Senão toda a Terra seria plana,

As pessoas e o eu do coração.

 

Pessoas planas existem,

Porém no mundo da ilusão.

Tema para outra canção.

 

Mas, por favor, entenda mesmo.

De tanto calejar nestas planícies,

Que existem na mesmice,

Encontrei o segredo,

Para impulsionar o coração.

 

Segredo que não vem da visão,

Nem da leitura da mão.

Vem por se descontentar da mesmice,

Esterco da burrice.

 

Forjado nos montes e nos vales,

Para vencer os males,

Que cegam o coração.

Venenos que entorpecem a emoção,

Que confundirão a razão.

 

Mas não estou criando nenhum segredo, meu irmão.

Talvez impulsionando a ousadia,

Paralisada pelo medo que se recria a cada dia.

Será mentira ou verdade, meu irmão?

 

Forjado nos montes e vales

No aço da espada de um grande guerreiro.

Distopias existem.

Contudo, os montes e vales são reais.

 

Antes que surja uma nova canção,

Eu preciso aprender a lutar nos montes e nos vales.

A língua do guerreiro dos montes e dos vales.

 

Senão o medo vira mesmice, meu irmão.

A mesmice do medo é a causa de enloquecer primeiramente a emoção,

Para depois derrubar a razão.

 

 

Brasília, DF, em 03 de maio de 2020.

Forjado nos montes e nos vales. Poema de Flavio di Fiorentina.

vergonha da idade

Vergonha da idade.

Caminhada da vergonha de fato é vergonha.

Mas qual será a vergonha em dizer a idade

Depois de certa idade?

Não dizer a idade parece coisa estranha.

Ou será que arranha?

 

Não pode haver caminhada da vergonha,

Para quem vai ganhando idade.

Abre a boca então meu ser,

Para dizer a sua idade.

 

Caso não fique satisfeito,

Cale a boca dos outros,

Por tamanha arbitrariedade.

 

Porém como vou abrir a boca,

Para dizer a idade?

A boca diz que a idade é dela.

Se cada um também tem a sua,

Por que se preocupar com a minha idade?

 

Abre a boca então meu ser,

Para dizer a sua idade.

Se não abrir a boca,

Como se livrará desta incômoda bagagem?

 

De fato é vergonhosa a caminhada da vergonha.

Mas andar nesta caminhada,

Por mentir ou esconder a idade,

É demasiadamente terrível,

Porque sempre pode vir à tona.

O que deixará o ser com cara de azeitona.

 

Mas dizer a idade jamais pode ser vergonha,

Para quem for ganhando idade.

Por mais que beire à zombaria,

Por que não matar a patifaria?

 

Onde tem longa trajetória

Tem na verdade história.

Muita história,

Verdade ou mentira, para contar.

 

De maneira nenhuma pode existir caminhada da vergonha

Para quem for ganhando idade.

Aproveite para contar a idade,

Porque a sete palmos da terra,

Depois da quarentena,

Talvez ninguém tenha saudade.

 

Brasília, DF, em 29 de abril de 2020.

Vergonha da idade. Poema de Flavio di Fiorentina

pandemia

A pandemia da embalagem frágil.

“Em uma terrível madrugada,
acordou com dores nas articulações dos braços
e das pernas. Beirando quase que a calafrios.
Repentinamente, após aflita oração a D’us,
sentiu como um fogo restaurador
penetrar nos braços e nas pernas.
Somente assim recuperou o sono e a paz.
Vacina que não parece deste mundo.”

Embalagem frágil.

Confiança que não vale um centavo.

Durante a pandemia,

O ser vira uma embalagem frágil.

Côncava,

Que não vale um centavo.

 

Durante a pandemia, o ser vira uma embalagem frágil.

Daquela que não vale um centavo.

Vulnerabilidade que atrai o cravo.

 

Pois a pandemia vem da região dos gelos.

Das montanhas do cravo.

Com certeza, pode atingir aquele,

Que não vale um centavo.

 

Porque o ser é uma pessoa côncava,

Que não vale um desagravo.

 

Desse jeito, minha geração não vale um centavo,

Pois se sustenta, de forma capenga, no mal do cravo.

Durante a pandemia do cravo o ser parece rebaixado,

Para a confiança que não vale um centavo.

 

Desvalorização que deixa todo mundo louco,

Por causa da embalagem frágil,

Durante o flagelo do cravo.

 

Tanto refinamento técnico adquirido nos milênios

Para resistir, de forma capenga, a um cravo.

Resta agora sobreviver por meio da linguagem do cravo

Para não se tornar um escravo.

 

Mas o que há então por trás da pandemia,

Se não for, sempre ele, o querer?

Flagelo contra o querer,

Porque ninguém quer morrer.

 

Pandemia contra o querer,

Que há no ser.

Alvo do terrível pescador.

Implacável na dor.

Onde não há dor,

Certamente não há amor.

 

Brasília, 08 de abril de 2020.

A pandemia da embalagem frágil. Poema de Flávio Fiorentina.

terra-dos-homens

Acontece na terra dos homens.

Acontecem, muitas coisas acontecem,

Na terra dos homens.

Casa de contendas,

Que às vezes viram lendas.

 

Acontecem, muitas coisas acontecem,

No solo dos homens,

Onde ocorrem constantes parabéns,

Que se contrapõem ao choro

Dos muitos alguém.

 

Acontecem mesmo muitas coisas

Na terra dos homens.

Território que não é refém

Das mãos de ninguém.

 

Acontecem muitas coisas

Na terra do homens.

Como a morte e a vida.

 

Dois fenômenos da terra dos homens.

Quem criou a vida,

Certamente criou a morte.

Contradição de um norte.

 

Há outras coisas na terra dos homens.

Enquanto o ser se apega a esta terra,

Ela não se apega a ninguém.

 

Joga todos, no devido tempo,

Para debaixo da terra,

Porque em cima não é de ninguém.

 

Não é mesmo de ninguém

A terra dos homens.

Verdadeira propriedade enganosa,

Que todos, mesmo assim, quer bem.

 

Mas vem a morte, que diz:

Pode se fartar em comer os frutos.

Deliciosos frutos expostos para comer.

Lembre-se, a morte também quer o seu bem.

 

Bem certo, todo mundo é propriedade da morte,

Que parece fantasia no mundo dos bens.

Mas o ser, curiosamente, também é propriedade da vida.

Enquanto ainda vivo,

O valor vale enquanto durar.

 

Esta, pois, é a terra dos homens.

Onde mora a ilusão,

Mora também a contradição.

 

O ser, enquanto ser vivo, é propriedade da vida.

Mas também, enquanto ser vivo,

Já é propriedade da morte,

Que ainda não tem a posse.

 

Brasília, DF, em 25 de março de 2020.

Acontece na terra dos homens. Poema de Flávio di Fiorentina.

olho no oceano

Três olhos para amar você.

Há um olho no oceano,

Existente dentro do meu ser.

Que mira meu ser de dentro,

Não o meu ser de fora.

Se o de dentro estivesse conectado com os de fora,

Eu teria três olhos,

Para amar você.

 

Como são tão desconectados,

Assim jamais vou amar você.

Pelo menos do jeito que gosta.

 

Certo que para amar só se precisa dos dois olhos.

Às vezes um.

Outras vezes de nenhum.

Basta amar e só.

 

Mas você parece muito diferente.

Com um olho o amor aparenta insuficiente.

Com os dois da mesma forma.

Talvez com os três eu possa amar você.

 

Então estou indo bem no fundo do oceano.

Talvez eu consiga juntar os três olhos,

Conectá-los de uma forma harmoniosa,

Para finalmente amar você.

Do jeito que você gosta.

 

E se o amor não der certo com os três olhos,

Nem com dois,

Nem com um,

Saio deste oceano para conhecer o seu.

Talvez seja você quem precise dos três olhos,

Para de fato me amar.

Do jeito que eu gosto.

 

Brasília, 09 de março de 2019.

Três olhos para amar você. Poema de Bomani Flávio.

ansiedade

A ansiedade transbordou da palma da minha mão.

A ansiedade transbordou da palma da minha mão.

Até dias atrás, porém, não valia um tostão,

Pois cabia na palma da mão.

De tanto não valer nada,

Encheu e transbordou para fora da minha mão.

Enganou meu coração.

Roubou meu cheiro.

Agora vale um baita tostão.

 

Quase tudo que transborda,

Para fora da mão,

Se não for para o lixo,

Tende a virar um baita tostão.

 

Mas a fortuna não tem mirado meu bolso.

Tem ido para as milhares de empresas,

Que fabricam a medicação.

 

Agora vivo acuado de montão.

Perdi o controle das coisas,

Que eu exercitava,

Por meio da palma da mão.

 

Quando isso ocorre,

O ser fica vulnerável.

Semelhante a uma sílaba estranha,

Perdida na frase, sem contexto e sem razão.

Sujeita à tesourada,

Do exigente professor de português.

 

A ansiedade transbordou da palma da minha mão.

Então resta eu reerguer meu coração,

Sem os conselhos da emoção.

O problema é que esta não gosta de ficar na palma da mão,

Nem gosta do cheiro que venha da razão.

 

Brasília, 07 de março de 2019.

A ansiedade transbordou da palma da minha mão. Poema de Bomani Flávio.

deriva

Estou à deriva à procura do meu amor.

Estou à deriva em meu caiaque,

À procura do meu amor.

Minha amada desapareceu,

Por eu não falar palavras de amor.

 

Pois dez anos são muito tempo,

Para poucas palavras de amor.

Amor nenhum resiste,

Em uma sociedade de dois,

Sem palavra alguma de amor.

 

Estiagem assim raramente acontece.

E tudo isso aconteceu,

Sobre o solo que eu pisava,

Onde eu resistia a falar palavras de amor.

 

Estou à deriva neste oceano,

À procura do meu amor.

Quero encher este oceano,

De muitas palavras de amor.

 

Quem sabe assim minha amada reapareça,

Mesmo que neste copo de cerveja.

O que eu quero é descobrir,

Navegando por estas espumas brancas e águas amarelas,

Deste oceano tão complexo,

Para aonde foi meu amor.

 

Brasília, DF, em 23 de fevereiro de 2019.

Estou à deriva à procura do meu amor. Poema de Bomani Flávio.