Lei do corpo e do eu.
O corpo.
Tudo na vida tem um corpo,
Que funciona como embalagem.
Mas embalagem do quê?
Embalagem do milagre chamado eu.
Milagre por milagre,
O eu é o milagre da natureza.
Maior invenção do universo.
Gaba-se tanto das façanhas,
Que acha-se o tal.
Mas nunca será como Elohim,
Maior de todos os eu.
O eu escolhe a roupa ou se deslumbra.
Come açucarados ou quer emagrecer.
Mas é contraditório.
Comanda o corpo.
Às vezes o destrói.
Que luta constante!
Como se vivessem distantes!
Sem o corpo o eu não existe,
Mas sem o eu não é nada.
Seria um triste cadáver,
Escultura que desaparece.
Que coisa difícil de explicar!
O cadáver desaparecerá,
Mas onde estaria o eu para o consolar?
Quer, pois, existir?
Tenha um corpo.
Mas sem o eu ele não acorda.
Também não come, fode, anda, xinga, etc.
A lei do corpo e do eu.
Que mistério se tem para decifrar!
Conseguirá a indústria revitalizar o corpo que se foi?
Conseguirá trazer de volta o eu que se escondeu?
Onde estará o eu que se perdeu,
Para deixar o corpo como uma pedra?
Objeto que não fala, não sorri?
Difícil, muito difícil de explicar.
A lei do corpo e do eu é uma ciência.
A lei do corpo e do eu é uma religião.
Tudo muito difícil de explicar.
O corpo, pois, desaparece.
O eu também desaparece.
Quantos choros pelo corpo que se vai!
Quantos choros pelo eu!
Quase tudo desaparece na vida.
O descarte é da natureza.
Quando tudo parece complicar a mente,
Melhor tomar um vinho bem singular.
Pode também ser um comum.
Sentir cada gota atravessando o paladar.
Talvez se perceba a diferença entre o eu e o corpo.
Assim como entre o céu de cima, dos lados e de baixo.
Brasília, DF, Brasil, em 18 de agosto de 2018.
Lei do corpo e do eu. Poema de Bomani Flávio.
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