Mereço uma festa.
No esconderijo da tristeza,
Pode haver festa?
Pois preparei uma bela festa,
Para recuperar meu ser.
Então o coração bate a mil,
Pelo som que acabo de ouvir.
O tambor do silêncio despertou meu ser,
Da libertação de um covil.
Mereço uma festa,
Pela fuga de uma tremenda floresta,
Um estranho quarto sem fresta.
Sufocamento sem fim.
Tristeza além da conta.
Jamais vou esquecer das quatro paredes,
Que viraram espécies de trilhas,
Com arapucas que pareciam de guerrilhas.
Eu me alegro na vitória,
Após longo tempo sem nenhuma trajetória,
No ambiente que me trouxe muita história.
O tempo do entardecer ficou para trás.
Hoje as noites e as manhãs são tranquilas.
Mereço uma festa,
Pois atravessei terras lamacentas,
Antigos oceanos,
Debaixo de sol escaldante de avermelhar a pele.
Tudo isso dentro de quatro paredes,
Na minha casa.
Essas coisas ninguém vê.
Não tem testemunha para contar.
Nas minhas exaustivas andanças,
A minha pele morena ficou branca,
Que ficou negra,
Que ficou amarela,
Que ficou morena.
Senti a soberba,
Senti o sofrimento,
Senti a riqueza,
Senti a tradição,
De cada cor.
Posse que podia ser todo o dia.
A cor da pele, no planeta, é tudo.
Talvez um dia deixe de ser.
Restam fragmentos do quarto,
Que deixei para trás.
Devo celebrar a fuga,
De uma prisão com endereço só para mim.
Não havia lei,
No silêncio em que eu me exilei.
Não vou querer outro silêncio.
Voltar seria ameaça para calar o ser.
Quarto é para dormir.
É para desfrute do ser.
Prisão só vai aborrecer.
Calar os movimentos e abater.
Mas uma lei vou promulgar.
Em tudo o que eu fizer,
Se redundar em alegria,
Vou fazer uma festa,
Para me conquistar.
Eu mereço uma festa.
E ousarei com o evento.
Convidarei somente as pessoas que não conheço.
Será uma festa de fraternidade sem elo.
O preço pela vitória.
Pode o coração bater a mil,
Pois escapei dos grilhões,
Onde deixei as convicções.
Venci paranoias nesse funil.
Mereço uma festa,
Por vencer uma vida funesta.
Brasília, DF, Brasil, em 30 de março de 2018.
Mereço uma festa. Poema de Bomani Flávio.