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São Paulo: liberdade ou amizade improvável?

Sequer liberdade tenho nesta enorme e pujante cidade,

Com densas casas verticais,

Que se multiplicam rapidamente na extensa paisagem.

Às vezes meus olhos cansados só percebem a mudança,

Nesta São Paulo que amo,

Quando estou em um mirante de tremer as pernas.

 

Exuberante savana.

Isso que é.

Cheia de animais.

 

Bichos, porém, com aparência de ovelha,

Em pele com chapa de aço.

Três, quatro e tantos cilindros.

Há pouco precisava-se apenas de dois.

Haja barulho contra os sensíveis tímpanos,

Feitos de carne!

 

Baita cidade-planeta!

Gente conectada ao celular.

Ouvidos quase sempre ocupados.

Sabe-se lá com o quê!

 

Paredes invisíveis,

Porém possíveis de se ver,

Em abrir e fechar de olhos.

Basta olhar em cada esquina,

Em cada rosto que não se ver.

 

Alfa, gama ou beta.

Não importa como classificam esta superestrutura,

Mas foi a vila que escolhi para morar.

 

Até que tento sair à rua,

Uma, duas, três.

Quantas vezes for possível,

Após mais um dia de trabalho ao lar voltar.

 

Mesmo assim, ponho o pé várias vezes na rua,

Mas vejo onças e leões,

Em cada rosto e

Em cada olhar.

 

Zoológico invisível diante de meus olhos,

Com sutil toque que me faz retrair.

A estranha vizinhança impõe restrição,

Que nenhum animal de estimação se ponha a cuidar.

Meu Deus! Estou perdido nesta enorme gaiola!

Cheia de carros, barulho e gente apressada!

Mas foi a vila que escolhi para morar.

Se é para levantar e andar,

Vejo a bicicleta quebrada,

Que não sei consertar

E muito menos pedalar.

Só pode ser amizade improvável,

De uma liberdade a desafiar.

Apenas tenho que recomeçar.

 

Nem sei consertar bicicleta,

Muito menos carro tenho para levá-la,

Nesta mesma cidade-planeta,

Que GPS precisa para andar.

Mas está aí a superação,

De um novo reinício a superar.

 

Vai rapaz, que sou eu,

Arrume você mesmo.

Ajuda do Google você tem,

Para bicicleta consertar.

Se não souber, aprenda.

Amizade improvável também é da vida.

 

Com o vento na cara,

Finalmente vou me soltar.

Vencerei onças e leões,

Talvez anacondas,

Que ao zoológico vão retornar.

Bem certo é que não vou deixar os animais me assustarem,

Se sou um animal que também pode amedrontar.

Não se pode abandonar cidades-planetas.

São Paulo foi a vila que escolhi para morar.

 

 

Brasília, 27 de novembro de 2017 às 06:14
São Paulo: liberdade ou amizade improvável. Poema de Bomani Flávio.