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Meu destino.

Bem dentro da gaveta do escritório está meu destino.

Pela primeira vez pude vê-lo assim tão perto.

Em carne e osso.

Li coisas absurdas.

Demorei a acreditar.

Para ser contra eu mesmo.

Assim eu chego lá.

 

Não foi surpresa o estranho modo de se expressar.

Tomou a forma de papel escrito em péssimo português.

Que coisa, joga sujo.

Pensava, porém, que jogava bem.

 

Engana-se quem ache que seja alguém do outro mundo.

Ele é simplesmente a outra cara da moeda de um real em minhas mãos.

Mas lá, naquelas letras estranhas,

Pescadas de um baixo mundo que ninguém sabe onde fica.

Estou hipnotizado.

É o seu poder mortífero,

Pois a ovelhinha me abalou como um tremor de terra.

Só que, sob o meu poder, porém está.

 

Gritar.

É isso que eu devia fazer.

Gritar bem alto.

Olha pessoal, o papel digitado é meu refém.

Coisa rara para qualquer um.

Posso fazer o que quiser com a vítima.

Molhar, rasgar.

Qualquer coisa, menos deixar fugir.

 

Lembro, porém, que o papel é sujo.

Vai me denunciar.

O destino está sujo.

A gaveta está suja.

A poucos centímetros da mão que não quer jogar a peste fora

E perto também dos olhos!

É melhor eu rasgar o papel.

 

Mas desisto.

O papel é meu retrato.

Traduzido estranhamente para o papel.

 

O destino estava nas minhas entranhas.

A lei da árvore da ciência do bem e do mal.

Germinando como toda semente de uma árvore.

 

Brasília, DF, em dezembro de 2002.

Meu destino. Poema de Bomani Flávio.