Olhar de cachorro.
Olhar de cachorro.
Que olhar é esse,
Que se impregnou em meu rosto,
Como um calmante?
Será para me convencer,
Que eu preciso melhorar o olhar?
Porque talvez seja para afastar o medo,
Que tem me impedido de olhar.
Pois, com o olhar de cachorro,
O medo não chega perto,
Se o objeto do olhar for além do que se deva olhar.
Mas, no olhar de cachorro, o que importa é que se deve olhar.
Seja para qual horizonte.
Seja para qual pessoa.
Ainda assim, o que importa é olhar.
O meu olhar.
O seu olhar.
Contudo, após algumas décadas de nascimento,
A redescoberta do olhar de cachorro.
Simplesmente olhar.
Haverá o risco do rótulo de gay,
Que talvez acresce com o da prostituta da esquina.
Sabe-se lá mais o quê!
Mas, se não olhar, irei me acanhar.
Esconder-se por trás do olhar faz mal a si mesmo.
Pode ganhar rugas,
Que não caberão na roupa que usa.
O olhar, porém, tem que ser bem feito.
Para limpar as vistas, duplamente.
De quem olhar e de quem será visto.
Além disso, o olhar bem feito exala um perfume ainda não descoberto.
Olhar igual os cachorros fazem.
Conduta simples e básica,
Que começa no olhar.
Caso contrário, as pessoas se afastarão,
Se não olhar.
Possível que nasçam flores,
Que não são da primavera.
Iguais às que acabam de estremecer meu peito,
Com estranhas palpitações,
Vindas de um mundo,
Não tão estranho assim,
Perto do meu!
Abalo sísmico que sismógrafo nenhum vê.
Entretanto, durante todos estes anos,
A venda nos olhos afetou meu olhar.
Mas não vou lamentar,
Nem chorar.
Porque só preciso olhar,
Para, de algum modo, me achar.
Simplesmente olhar.
Igual os cachorros fazem.
Conduta simples e básica,
Para endireitar o olhar.
Brasília, 3 de outubro de 2017 às 11:45
Olhar de cachorro. Poema de Bomani Flávio.