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Profeta do dia de ontem.

Sou profeta ou vidente.

Sou, porém, profeta do dia de ontem.

Sei fazer todos os prognósticos do dia de ontem.

De dias anteriores.

Dos meses anteriores.

Dos anos anteriores.

 

Inclusive de décadas e séculos passados.

Essa é a minha especialidade.

Pertenço a ordem de antigos sábios,

Sem linhagem específica.

 

Podem me procurar,

A qualquer momento,

Que direi todos os seus segredos,

Seus medos.

 

Minha matéria é a vida pretérita.

Cálculos de sucesso dos negócios.

Da vida amorosa.

Faço tudo.

Sou adivinho do dia de ontem.

Sou vidente de um mundo adverso.

 

Mas, por favor, não me procurem sobre o amanhã.

Não sou vidente do amanhã.

Não me procurem porque não tenho fontes que me dê tamanha autoridade.

 

Não faço prognóstico baseado na incerteza.

Falta-me elementos para matéria da vida futura.

Não saberia associar evento a com evento b.

Nem evento b com evento a.

Os sonhos poderiam me ajudar,

Mas nada sei sobre a oniromancia.

Inabilidade que não me geraria autoridade.

 

Se eu falasse sobre o dia do amanhã,

A universidade da certeza não me aceitaria.

Minhas pupilas se dilatariam.

As batidas do coração sairiam dos meus ouvidos.

Minha especialidade não é o dia do amanhã.

Profetizo o que conheço.

Não sou vidente dos dias futuros.

 

Mesmo me julgando profeta do dia de ontem,

Acho que nem assim sou arauto confiável.

Será que saberia a data da fundação da Terra?

Do que é feita a parte escura do universo?

 

A noite vejo o cintilar das estrelas e a parte escura.

Será que eu saberia dizer como o sol surgiu?

Por que tinha que ser uma bola de fogo?

 

Quase todos os dias, no entanto, a estrela queima um pouco minha pele.

Rebato, às vezes, com protetor solar.

Por que só se entra na Terra pelo nascimento?

Por que para sair, para sempre, tem que morrer?

Respostas que talvez apareçam no futuro.

O porvir, como disse, não é minha matéria.

O passado é que é minha matéria.

O futuro não conheço.

Passado e futuro próximos.

Separados por fração de segundos,

Com milhares de tempo entre eles.

Tempo que sei e não sei.

 

Mas, nem por isso, sou vidente do futuro.

Como visto, talvez eu seja profeta de tantas perguntas,

Milhares de perguntas,

Que, mesmo assim, não tenho respostas.

 

Brasília, DF, Brasil, 04 de março de 2018.

Profeta. Poema de ‎Bomani Flávio.