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O relógio que controla o mundo.

Ando nesta noite fria.

Noite sem ninguém na rua.

O relógio como companhia.

Triste o homem que tem o relógio como companhia.

Tic tac silencioso que mora dentro do ser.

 

Tic tac que leva mudanças no existir.

Mistério que vem do sol,

Que se reproduz na lua.

 

Poder presente em qualquer parte aonde vou.

Impiedoso relógio universal,

Presente em tudo,

Nos seres, no ser, nas coisas.

 

Relógio que me tirou de casa,

Nesta noite fria.

Por que preciso de um relógio?

Por que o tempo vai para a frente,

E não para trás?

 

Estranho um homem andar,

Questionando o tempo como companhia.

 

Antes esquecê-lo na pia,

No ônibus,

Em algum lugar.

Ninguém precisava de um medidor,

Para um fim que vai virar dor.

 

A segunda-feira se foi.

Terça-feira chegando.

Quarta-feira logo após.

Assim, dia após o outro.

 

O tempo sempre trará mudanças ao ser.

Deve haver um propósito da natureza,

Para o tempo andar para a frente,

E não para trás.

Propósito para um dia substituir o outro.

Evento que ocorre com o sol no amanhecer,

E desaparece no horizonte de uma tarde qualquer.

 

Propósito que ninguém sabe quando começou,

Nem quando terminará.

Ditadura que ilude meu ser,

Com promessa, vinda sabe-se lá de onde,

De uma vida que parecerá eterna.

No final, tão breve quanto respirar.

 

Hora de voltar para casa.

Bem que o ser queria controlar o sol.

Controlar movimentos de mudança.

Vou continuar minhas andanças,

Achando uma forma de, ao menos, entender o relógio,

Que está dentro do meu ser.

 

Brasília, DF, Brasil, em 29 de abril de 2018.

O relógio que controla o mundo. Poema de ‎Bomani Flávio.

oceano
O oceano.

Há um oceano,

Entre um dia e outro,

Do tamanho do Atlântico,

Que nos impede de voltar

Ao dia anterior.

 

Quanto mais se passam os dias,

Quanto mais cresce sua imensidão.

Não adianta chorar,

Nem lamentar,

Pelo dia anterior.

 

Resta olhar para frente

Como aquele avião que se vai.

Para travessia sem fim.

Ilusão que satisfaz e engana.

 

Mas o dia posterior também é de assustar.

Pelos menos há rios e lagoas.

Talvez menores,

Para avançar.

Se não se pode voltar,

Medo não se pode ter para avançar.

 

Vastidão como esse,

Tão grande assim,

Ninguém esquece.

Nasce com ele,

E morre assim.

 

Talvez algum dia a geografia mude.

Ele de vez apareça.

Sempre virá do dia anterior,

Onde sempre foi seu lugar.

 

Há um oceano,

Entre um dia e outro.

Cresce, porém, dia a dia,

Para assustar você.

 

Oceano indomável.

Embora tão grande,

Quase ninguém vê,

Nem percebe.

 

Quando se nota,

Sobram as rugas.

Terríveis rugas do envelhecer.

Tatuagens de um dia que se foi.

Mistério que ninguém explica.

 

Brasília, DF, em 03 de outubro de 2017.

 Oceano. Poema de Bomani Flávio.