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dias com noite

Nas mudanças da vida, chegando os dias com noite.

Surgiram algumas mudanças no mundo do eu em  22/08/2024.

Necessárias serem anotadas no texto.

 

Nas mudanças da vida de uma pessoa

Pode estar chegando os dias com noite.

Aqueles sem o sol e a lua.

Dias escuros de vinte e quatro horas.

 

Semelhante a dor das árvores com as folhas caindo nas ruas.

Semelhante as folhas das árvores caindo em outros planetas.

 

E as folhas, outrora belas como as do Ipê,

Enchendo o chão com folhas mortas no Outono.

Dias de preparação para os porquês.

 

São as mudanças na vida chegando,

Mesmo para quem estiver ignorando.

 

Assim, é bom se preparar para as alegrias da vida.

Mas é bom se preparar para as tristezas da dor.

 

Pois chegando os dias com noite

Com toda sorte de açoite.

 

Quando dias assim vêm,

Em perigo estará o bem.

O bem do santuário,

Que abriga o próprio eu.

 

Santuário valioso,

Verdadeiro oásis.

Misteriosamente habitado,

Por vários eu.

 

Logo, chegando os dias com noite.

Mas, se não souber quando vêm,

Talvez não queira o seu bem.

Nem o seu,

Nem de ninguém.

 

Porque faz parte da existência.

Tendência da vida o sofrer,

Mesmo que venha a descrer.

 

Portanto, não esqueça quando dormir.

Chegando os dias com noite,

Com seus perigos e açoites.

Os olhos talvez não os vejam,

Porque são dias que não se almejam.

 

O que se almeja, na verdade, na vida?

O ser precisando de roupa, comida e bebida.

A voz dizendo tudo perdido.

 

Mesmo assim, não se tenha a luta perdida,

Se no novo dia faltar o sol e a lua.

Nas mudanças imprevisíveis da vida,

Talvez esses iluminares voltem a brilhar como antes.

Talvez fiquem escuros para sempre.

Brasília, DF, em 12 de setembro de 2020.

Chegando os dias com noite. Poema de Flavio di Fiorentina.

 

sentido da vida

Voando de paraquedas aos 102 anos de idade.

Homenagem a Dira, moradora de Boituva, São Paulo. Uma senhora com 102 anos de idade.

Voando nos céus de paraquedas,

Para entender o sentido da vida.

Estou voando no paraquedas,

Tendo na bagagem muita vida.

 

A de cento e dois anos de idade.

Será agora meu estilo de vida?

Se não superar os paraquedas,

Como vou superar as previsíveis quedas?

 

O chão eu já conhecia demais.

Precisava também conhecer os ares.

Voar como aqueles animais,

As aves do céu.

Se o chão fascina os olhos,

Do alto pode haver muita emoção.

 

Então pode divulgar para todo o mundo.

Estou voando de paraquedas,

Para a vida não ser tão azeda.

 

Não há restrição para a idade,

Se tudo vem da vontade.

A fragilidade poderá estar no coração,

Nem tanto na cautelosa razão.

 

Estou voando de paraquedas,

Nos cento e dois anos de idade.

Tudo vem da vontade,

Mas tem que ter coragem.

Todo o ser consegue realizar proeza,

Mas, na debilidade, tem que ter frieza.

 

Brasília, DF, em 01/04/2019.

Voando de paraquedas aos 102 anos. Poema de Bomani Flávio.

controle

Eu preciso assumir o controle da própria vida.

De braços abertos para mim mesmo,

Olho para o horizonte amarelado,

Que se vai.

Como um galo acanhado no amanhecer,

Anuncio meu quase rouco canto coro-cocó.

Eu preciso assumir o controle da minha vida.

Eu preciso assumir o controle.

 

Pois outro janeiro chegou.

E chegou também o eterno dogma da família,

Que me assusta como uma tempestade que nunca vai embora.

Virou uma tosse.

Quase uma tosse alérgica,

Que me tem levado, às vezes, à confusão mental.

 

Eu preciso assumir o controle da própria vida.

Eu preciso assumir o controle…

Porém, diferente de uma criança que vejo soltando pipa em minha frente,

Já não tenho dez anos de idade,

Nem vinte e poucos anos,

Nem trinta e poucos anos.

 

Mas, às vezes, ouço que eu preciso assumir o controle da própria vida,

Da tão incerta vida,

Como se, se não tiver o controle,

Tudo perecerá.

Dias atrás ouvi inflamado discurso no início das férias de verão.

Ontem o tema dominou o café quase que a manhã toda.

Hoje, porém, me perco nesse devaneio.

 

Eu preciso assumir o controle da própria vida,

Para, quem sabe, descobrir onde está minha identidade oficial,

Se é que preciso do documento.

Eu preciso assumir o controle da própria vida,

Para melhorar no trabalho,

Em casa

Ou no amor dos anos.

Porém, como controlar,

Se tudo parece tão incerto?

A vida começa com a matemática dos nove meses,

Mas termina por um obscuro cálculo da natureza,

Desconhecido pela ciência.

Muitos chamam de fatalidade.

O que não é.

Por que para morrer não se computa os nove meses de aviso?

Por que o descontrole?

 

Controle, controle e controle!

Como é bom ter o controle da própria vida!

Como é bom ter o controle das coisas!

A chave do carro, pilotar máquinas,

Estudar, obter sucesso,

Namorar pessoas bonitas e poderosas,

Ter a própria família.

Controlar até para mandar em alguém.

Resta-me então fugir para contemplar o Rio Grande(*),

Sentado sobre este cais.

 

Observo que as águas do rio caem da esquerda para a direita,

Em uma cadência mais rígida do que desfile militar.

Desde que nasci, o curso do Rio Grande sempre foi assim.

O Rio Grande controla o curso de sua água.

 

Mas a inglesa Holly Butcher(**), no leito da morte,

Não pode controlar o curso da própria vida:

“É uma coisa estranha perceber e aceitar a sua mortalidade aos 26 anos de idade.

É apenas uma daquelas coisas que ignoras”

“Não quero ir. Eu amo a minha vida. Estou feliz…

Mas o controle está fora das minhas mãos.”

Assim como o horizonte se vai,

Holly Butcher se foi.

O controle está fora das mãos.

Mas o controle eterno da própria vida

Será possível?

Eu fico em meus devaneios.

 

Eu preciso assumir o controle da própria vida.

Às vezes a própria vida tem o outro lado da moeda!

Doenças surgem para desafiar o controle,

De quem acha que é o dono da própria vida.

 

O próprio Rio Grande sofre ameaça em seu curso,

Se a chuva não cair lá na cabeceira.

Controle e ameaça sempre conviverão juntos.

Já não tenho sessenta e poucos anos,

Nem noventa e poucos anos.

Mas eu preciso assumir o controle da própria vida,

Porque há em tudo um controle.

Bem além do que se possa fazer.

 

A morte é, por natureza, o controle do controle.

Maldição que expulsa a vida da vida.

Segredo ainda não desvendado.

Eu querendo controlar a minha própria vida,

E ela querendo fazer seu próprio controle.

O terrível controle de mortalidade,

Que se junta ao controle da minha família.

 

Volto a tossir.

Eu preciso assumir o controle da própria vida.

Eu preciso assumir o controle…

Eu preciso assumir…

Eu preciso…

Eu…

Assim me tornarei um robô

Dos anos noventa.

 

(*) Rio Grande é um rio que banha a cidade de Barreiras, no oeste da Bahia, estado do nordeste brasileiro.
(**) O poema é homenagem à inglesa Holly Butcher, vítima do câncer em janeiro de 2018.

 

Barreiras, Bahia, Brasil, no dia 19 de janeiro de 2018.

Eu preciso assumir o controle da própria vida. Poema de Bomani Flávio.