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desigualdade social

A desigualdade social deixa o ser em parafuso.

A desigualdade social deixa o ser em parafuso,

Por causa de tudo que acontece em cima,

Em detrimento do que acontece embaixo.

Dois cenários opostos.

Na debaixo todos são iguais.

As bactérias a todos comem.

Os fungos complementam.

A carne desaparece.

Tudo, aliás, vira pó.

 

Na de cima não é bem assim.

Quando pinta a desigualdade social,

Mesmo que por uma vírgula,

O ser entra em parafuso.

 

Talvez seja por isso que meu ser entrou em parafuso,

Ao andar na rua cheia de carrões.

Bairros com casas lindas de doer os olhos.

De pouca gente na rua,

E eu andando naquela rua,

Com pouca grana no bolso,

À procura de emprego.

 

Como se eu fosse um verme,

Um Zé ninguém,

Em um mundo de aparente charme.

 

Quando o ser entra em parafuso,

Muitas asneiras saem da boca.

Como se o direito estivesse precluso.

 

Então meu ser bêbado disse para o outro meu ser sóbrio:

Debaixo da terra todos são iguais.

Acima da terra todos são desiguais.

 

Partido de cima com critérios de regalias.

Partido de baixo ninguém tem regalias.

Que extremo juízo de valor,

Para quem se acha em parafuso!

 

De tanto esmorecer no discurso do parafuso,

Meu ser sóbrio foi para casa.

Eu fiquei parafusando na rua.

Como a desigualdade social não desparafusa o ser!

 

 

Brasília, 06 de fevereiro de 2019.

A desigualdade social deixa o ser em parafuso.

céu estrelado

Lições de uma noite escura de céu estrelado.

Noite escura de céu estrelado.

De tanto me encantar,

Vai, finalmente, mostrar o que tem além das estrelas?

Tão próximas umas das outras.

Uma, duas, três, vinte e sete.

A contagem logo me cansa,

Por causa da colossal fotografia celeste.

 

São milhares de milhares,

Que não consigo sequer contar.

Mais uma vez o fascínio encanta meus olhos,

Que se convencem de tanta beleza,

Mas também de intermináveis perguntas.

 

O que há além das estrelas?

Ou antes das estrelas?

Poderia ser o multiverso?

Por que as estrelas parecem tão próximas umas das outras?

Talvez seja miragem dos meus olhos.

 

Aliás, por que precisa-se de tantas estrelas?

Não bastava uma ou duas?

Uma já me impressiona.

Duas ou mais me fascinam.

Milhares estarrecem meu ser.

 

Noite escura de céu estrelado.

Vejo extrema beleza no mundo de cima.

Complexidade que não cabe em meus olhos.

Porém o mundo de baixo,

Onde vivo,

Parece mais complexo do que o de cima.

 

O mundo de baixo tem concentração de renda.

Pouca gente para muita grana.

Muita gente para pouco dinheiro.

Fama sem conteúdo.

Dívida bancária que nunca acaba.

Riquezas e mais riquezas para ricos.

Tudo em nome da vida eterna,

Que aqui embaixo não tem.

Eterna só no mundo de cima.

 

Noite escura de céu estrelado.

Você não é alguém,

Mas é um teto,

Isto é, um complicado teto.

Bem mais do que um complicado teto,

Para minhas lamentações,

Provocadas pelo mundo de baixo.

 

Olhe para o mundo de baixo.

Verá intermináveis estrelas.

Tão numerosas quanto as de cima.

Impossíveis de se contar.

Estrelas que provocam milhares de lamentações,

Neste primeiro de maio.

 

Brasília, DF, Brasil, em 01 de maio de 2018.

Lições de uma noite escura de céu estrelado. Poema de ‎Bomani Flávio.