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vida de casal

Há uma chama na vida do casal.

Há uma chama à disposição do casal.

Escudo criado nos tempos de bonança.

Tem uma chama na vida do casal,

Para ser usada também nos tempos de mudança.

 

Intensa labareda,

De cor vermelha ou amarelada,

Às vezes a mistura dos dois,

Para iluminar, como o sol, a vida do casal.

 

Chama que não nasce de manhã,

Nem se põe nos fins de tarde,

Para imperar a noite no seu lugar.

 

Se o casal não preservar esta chama,

Tão invisível quanto o rosto de quem ama,

Com certeza este sol desaparecerá,

Nos terríveis tempos de trama.

 

De forma que tudo pode virar trama,

Que talvez mine a confiança,

Se antes não abater as finanças.

 

Há uma chama na vida do casal.

Durante o dia, na forma de uma nuvem.

Mas, durante a noite, em uma coluna de fogo.

Energia limpa para aquecer e iluminar a vida do casal.

 

Chama que, misteriosamente, impede um terrível som.

Tenebroso som,

Com cheiro de fedor,

Na forma de puta, vadia,

Cafajeste,

Além de outros nomes como peste.

 

Há uma chama na vida do casal.

Mas, se desaparecer,

Ele ou ela,

Receberá todo tipo de energia suja,

Na forma de puta, vadia,

Cafajeste,

Além de outros nomes como peste.

 

Há um chama na vida do casal.

Antídoto contra tempo sazonal.

Arma tão preciosa que pode,

Infelizmente, virar gelo,

Que, se consolidar,

Destruirá, de forma precoce, a vida do casal.

 

Brasília, DF, em 17 de julho de 2019 às 00:20.

Há uma chama na vida do casal. Poema de Bomani Flávio.

Casal

Fenda no meio da cama de casal.

Uma fenda na cama do casal.

Após três anos de serviços prestados,

Surgiu uma fenda no meio da cama do casal.

Estranho risco ziguezagueado,

Que não consigo decifrar.

Tão de repente surgiu,

Que não sei como consertar.

 

Fenda em Sãn Andreas.

Fenda no vale de Afar, na Etiópia.

Fenda no vale do Rift, no Quénia.

Fenda na região das montanhas do Bighorn.

Fenda nas roupas das mulheres.

Tantas fendas surgindo!

Agora fenda na cama do casal.

 

Cinco mil por uma exuberante cama.

Capricho de tanta vaidade,

Que não resistiu a uma fenda.

Dinheiro das férias,

Das economias de tempos difíceis,

Virando cinzas.

 

Fenda que virou um acidente geográfico.

Então não sei como proceder.

Se devo contratar um profissional.

Se devo pedir ajuda a familiares,

Se devo pedir ajuda a vizinhança.

 

Auxílio que talvez não possa ajudar.

Apenas sei que surgiu uma fenda na cama do casal.

Milimetricamente no meio da cama.

Cama de madeira boa.

Quase madeira de lei.

 

Somente eu e minha esposa sabemos do incidente.

Ninguém mais.

Não é para admirar,

Nem para se assustar,

Da fenda que surgiu no meio do nada.

Tantos serviços prestados.

Aguentou sol da noite.

Suportou a chuva de granizo.

Suportou a estiagem dos domingos.

Suportou também a lua do dia.

 

Surgiu uma fenda na fenda na cama do casal.

De tanto dormidas.

De tantas conversas.

De tantas juras de amor.

Fruto da realidade?

Fruto de uma ilusão?

 

Se não sei decifrar o estranho risco,

Pelo menos duas camas,

Duas camas de solteiro,

Reaparecem agora na geografia do quarto do casal.

Indício de que a emenda não foi bem feita.

 

Quando a emenda não for bem feita,

O traçado defeituoso começa a aparecer.

Ser dois em um vai muito além da cama do casal.

Esta é apenas um acessório,

Nada mais,

Que complementa a vida do casal.

Mas se esta quebrar tudo se quebrará.

 

Brasília, DF, Brasil, em 29 de maio de 2018.

Fenda no meio da cama do casal. Poema de Bomani Flávio.