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Os olhos estão no olhar.

Os olhos estão no olhar.

O olhar, pois, diz tudo.

O olhar às vezes não diz nada.

O poder de um olhar,

Se for aquele olhar,

Pode reconciliar tudo.

Pode não reconciliar nada.

Talvez porque dependa de como olhar.

 

O poder do olhar às vezes vai contra o outro poder do olhar.

E assim será porque os olhos são bons.

Os olhos são maus.

 

E são tantas as tonalidades.

Olhos castanhos ou pretos,

Verdes ou azuis.

 

Tonalidades que seduzem.

Cores que destroem.

Esses coelhos inventam mundos,

Mas também eliminam vidas.

Não importa a cor.

Tema das canções.

Enredo do cinema.

 

As peças ditam a moda.

Governam o mundo.

Mas, em muitos momentos, os olhos revelam o que são,

E a maldade não escolhe a cor.

 

Mesmo assim, como brilham diante do sol!

Duas janelas para me ajudar no mundo,

Dois diamantes para me expor ao mal.

Elogios nos lugares aonde vou.

Maldição que me levam aonde não quero ir.

 

Sem eu perceber, controlam minha vida.

Despertam as vontades adormecidas.

Levam-me aos mais altos prêmios.

Conduzem-me ao lamaçal,

Mesmo durante o dia.

 

É uma luta que parece desigual,

Pois cada decisão parece certa.

O resultado, às vezes, é muito mal.

 

Todos os dias interpreto o que vejo.

Seja para o bem.

Machuco a mim mesmo.

Machuco a quem me quer bem.

 

As vistas são a contradição da vida.

Ora, me faz um tremendo bem,

Ora me faz um tremendo mal.

Não posso, porém, arrancá-los,

Pois são dádiva da vida.

Preciso, na verdade, educá-los.

 

Os luzeiros são tela,

Do que eu penso,

Do que está no coração.

Resta-me então olhar para o sol.

Bem rapidamente.

 

Os reflexos cegam-me por instantes.

Se olhar demais,

Podem cegar para sempre.

Essa a luta dos coelhos.

 

Olhar por instantes ou olhar demais.

A mulher de Ló olhou demais.

Em pedra, porém, se transformou.

Olhar por instantes pode ser ruim,

Mas olhar demais talvez seja bem pior.

 

Brasília, DF, Brasil, em 31 de março de 2018.

Os olhos estão no olhar. Poema de ‎Bomani Flávio.